domingo, 24 de outubro de 2010

Vivemos uma democracia ou uma ditadura?

VIVEMOS UMA DEMOCRACIA OU UMA DITADURA?

Rodrigo Borges de Campos Netto

Conversando com uma amiga, que dizia não entender o porquê de tanto receio ao risco de um ditadura, já que vamos votar e eleger os novos governantes e, portanto, não estamos submetidos à ditadura, argumentei o seguinte: “Você tem razão, ainda não vivemos uma ditadura propriamente dita”.

Mas não se pode fazer vista grossa para o fato de que o conjunto dos movimentos destes que estão no poder apontam inevitavelmente para tal. Vejamos:

– as tentativas de se estabelecer o “controle social da imprensa”, ou seja, censura;

– o Conselho Nacional de Jornalismo (CNJ), que se pretendeu implantar, mais censura;

– a Ancinav, que também se tentou criar pra controlar a produção cultural;

– a clara intenção do partido único e hegemônico;

– a mais absoluta ausência de discernimento quanto ao que é governo e ao que é partido, quanto ao que é exclusivamente público e ao que é privado;

– o aparelhamento do Estado levado às últimas consequências, com objetivos muito claros e pouco republicanos, isso para não falar de seus efeitos deletérios na qualidade dos serviços públicos, da corrupção etc;

– o desrespeito e mesmo desprezo pelas instituições que dão corpo e alma à democracia;

– a reiterada (e até debochada) transgressão às regras democráticas e do jogo eleitoral;

– a utilização da mentira mais deslavada para enganar a população em geral e os eleitores em particular;

– a desonestidade intelectual ao negar tudo o que os outros presidentes fizeram;

– a apropriação indébita das realizações dos outros presidentes como se suas fossem;

– o populismo messiânico que se busca estabelecer;

– a volta do personalismo tão retrógrado e que se julgava coisa do passado;

– a intolerância à divergência;

– a incitação à violência;

– a tentativa maniqueísta de dividir o país entre pobres e ricos, jogar uns contra os outros gerando ódio na população;

– o desejo explícito do extermínio das oposições;

– a utilização da máquina estatal, inclusive informações confidenciais, para fins eleitorais e de perseguição política.

– no plano internacional, as “afinidades eletivas” do atual presidente a governantes com clara vocação autoritária, tais como Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel Castro, Cristina Kirchner e Mahmoud Ahmadinejad;

Enfim, todo esse conjunto de ações apontam para o quê? Democracia? Não, apontam claramente para uma ditadura totalitária, com o perdão da redundância.

É assim que eu vejo a situação hoje em nosso país. Por isso eu digo: o que está em jogo é uma opção (ou não) pela manutenção da democracia e das liberdades a ela inerentes.

Rodrigo Borges de Campos Netto
, Cientista Político
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Extraido do Jornal do Brasil -- 24/10/2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ao próximo presidente da Republica


AO PRÓXIMO PRESIDENTE DA REPUBLICA
Maria Clara Bingemer

Senhora ou senhor,
Esta carta é escrita antes do segundo turno das eleições presidenciais, quando os brasileiros irão escolher se desejam a senhora ou o senhor como primeiro/a mandatário/a do país. Queria pedir aos dois candidatos que disputarão esse segundo turno que, por favor, dessem atenção a algo que, a meu ver, é a prioridade número 1 do Brasil: a educação.

Em recente pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro, do Ibope, a educação aparece como a quarta área que, segundo os eleitores, merece receber mais atenção do próximo presidente da República. Perde apenas para a segurança pública, a saúde e o emprego.

“É a educação que transforma a massa alvo da demagogia em povo com ideais consistentes”A pesquisa revela ainda que a educação cresceu em importância na consciência do eleitor desde a última eleição de 2006. Na ocasião, ocupava o 7º lugar no ranking, passando agora para o 4º. Isso é extremamente revelador no que diz respeito ao amadurecimento do eleitorado brasileiro. Pois significa que o brasileiro passou a priorizar áreas de resultado a longo prazo e não mais imediatismos.

Recordo-me bem quando o presidente que agora se retira disse em um de seus discursos que sua prioridade número 1 era a erradicação da fome. E que ele ficaria feliz se graças a seu governo o brasileiro pudesse fazer três refeições ao dia. Creio que por amor à verdade temos de reconhecer que realmente hoje em dia o problema da fome no Brasil se encontra em muito melhor situação do que antes. O brasileiro está comendo mais e melhor e tendo mais acesso aos bens de consumo.

Porém, é forçoso constatar que isso não basta nem plenifica o que significa um verdadeiro desenvolvimento humano. Pelo contrário, um programa de governo que só vise essas necessidades básicas e imediatas do ser humano não toca em uma dimensão essencial: o espírito, a transcendência. Somos seres em contínua autotranscendência, que têm tanta fome de pão como de liberdade, seres que sentem frio e sede mas são capazes de suportar essas duas carências para ouvir a música de que mais gostam em um concerto ao ar livre.

Nesse sentido, a educação é imprescindível para fazer do ser humano alguém digno deste nome. Sem educação, sem a mente e o espírito abertos pelo ensino e capaz de pensar e tirar suas próprias conclusões, não adianta a barriga cheia e a televisão na sala. O ser humano não está cumprindo sua vocação na terra, não está fazendo jus ao fim para o qual foi criado.

A pesquisa do Ibope mostra que os entrevistados apontaram, entre as medidas que os próximos governantes devem priorizar na questão da educação pública no país, a melhora do salário do professor em primeiro lugar. Isso também denota um grande amadurecimento, pois ressalta que o maior investimento deve ser feito no capital humano, muito mais do que na construção de prédios onde funcionem escolas. Que escola será esta, mesmo que tenha ótimas instalações, se não tiver educadores apaixonados por sua missão, que desempenhem seu trabalho com amor e entusiasmo e, sobretudo, competência?

Os eleitores, lúcidos e realistas, mostram que só haverá um corpo docente assim qualificado e empenhado se o mesmo for convenientemente valorizado, decentemente remunerado e tiver oportunidades de aperfeiçoar-se sempre mais. Não basta, portanto, multiplicar as escolas e manter os docentes com salários aviltados, tendo que dividir-se e exaurir-se em múltiplos empregos para poder sobreviver. Eles devem receber o necessário para poder investir na própria carreira, estudar e manter-se atualizados.

Senhora e senhor candidatos que disputarão o segundo turno, o recado do eleitor, de acordo com essa pesquisa, é bem claro. É preciso apresentar propostas consistentes para a área da educação. Entendam, por favor, o que o eleitor diz em suas respostas.

Já não basta pão e circo para fazer o povo feliz. O brasileiro já não se contenta em ter a boca e o estômago cheios para considerar-se plenamente cidadão. A capacidade desejante de nosso povo cresceu. Graças a Deus!

Não existe povo digno deste nome sem educação. A educação tornou-se no Brasil uma prioridade sempre mais importante, encostando e até ultrapassando áreas que sempre foram priorizadas na expectativa eleitoral, como a saúde e a segurança.

Parece, futuro/a presidente, que nosso povo entendeu finalmente que só com educação se transforma um país. Apenas um povo educado sabe conduzir os destinos de sua nação, escolher seus governantes, reivindicar suas necessidades mais importantes, investir coletivamente em seu futuro.

É a educação que transforma a massa manobrável e manipulável pelos caudilhos e demagogos em povo que tem ideais e projetos consistentes. Por isso esta carta, esta reflexão e este pedido: priorizem a educação em suas agendas. O Brasil lhes agradecerá, e a história lhes fará justiça.

Maria Clara Bingemer
Teóloga e Professora da PUC Autora de ‘Simone Weil - A força e a fraqueza do amor’ (Ed. Rocco). www.users.rdc.puc-rio.br/agape
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 Extraido do Jornal do Brasil  - 11/10/2010

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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A uma pessoa que boceja

A UMA PESSOA QUE BOCEJA

Não faça isso. O mundo ainda é a coisa mais interessante que saiu das mãos do Criador. Cada manhã que nasce é um cartaz diferente que vem berrar aos nossos olhos. E se a peça não presta, não é razão para condenar-se o repertório e nem o empresário bem intencionado.

O mundo velho se esforça para divertir o público. Tem sempre na gaveta alguma coisa inédita que encenará oportunamente. Se você acha intragável o espetáculo, retire-se. Não há porta fechada que resista a um disparo de revólver.

Olhe aqui. Faça força. Tenha a elegancia de um turista. Procure interessar-se por este outro mundo, que fica além das paredes de sua casa e do seu tédio irremediável. Imagine viajar sem passaporte e cicerone. E abrir para todas as coisas dois olhos puros de criança.

Todo o seu mal é essa mentalidade mofada que está em sua cabeça. Bata a cabeça contra a parede. Em lugar de ficar pensando que o mundo e/ou a vida te devem alguma coisa, banque o reflexo indiferente no espelho. Seja uma rolha de cortiça na correnteza universal. Deixe o papel de criador pelo de simples criatura.

Você verá, então, que o mundo não é tão feio como alguns querem fazer parecer. Que ele e a vida não nos devem nada. E que a vida é tão boa e plasmável como a mulher que se entrega.


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